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IV COLÓQUIO MERLEAU-PONTY

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O pensamento e a obra de um filósofo se mantêm vivos à medida que se medita sobre eles. Mais do que a consolidação que foi erigida em vida, o que compõe a obra envolve as suas repercussões, debates, desdobramentos e, porque não, aplicações.

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A obra de Maurice Merleau-Ponty é pródiga neste sentido. Importante enquanto filosofia, tem uma variedade de apropriações e desdobramentos em diferentes vertentes do pensamento filosófico, na política, nas artes e nas ciências. Sua preocupação com o existencialismo e a fenomenologia, passando pela política, ciências humanas, história e, por fim, pelo esboço de uma ontologia do sensível, abrange um grande número de possibilidades de entrada (e de cultivo) de seu pensamento.

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São muito conhecidas suas formulações fundamentais com respeito ao corpo, cujo papel ganha outro contorno com a formulação da ideia de carne. Esta recebe desdobramentos como em Michel Henry ou Emmanuel Levinas, não sendo amplamente desenvolvido por Merleau-Ponty.

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Carne não é matéria, muito menos metáfora, sendo a dobra, como solução para o dilema enfrentado desde a fenomenologia da percepção, do corpo no mundo, da linguagem e da existência: o subjetivo e o objetivo, corpo-mente, ser e mundo – ser no mundo.

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Um pensamento encarnado parece ser um dos grandes desdobramentos ou heranças que aqueles que lidam com este pensamento vivo têm para adensar, desdobrar, fazer florescer. Na verdade, ao chegar nesta compreensão, o filósofo fornece uma direção para se pensar as consequências de uma fenomenologia (ou ontofenomenologia) para a sociedade contemporânea: um pensamento situado, corporificado, de fronteira por excelência, que tem muito para oferecer diante dos desafios contemporâneos, seja na filosofia, na ciência e ou na política.

 

O pensamento encarnado talvez seja a possibilidade de pensar estes três campos em outra chave, mais articulada, interdisciplinar, na qual o sensível permeie de forma mais efetiva e potente nossas ações cotidianas, nosso contexto social e histórico e nossa forma de ser no mundo.

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Tomar este tema geral, A carnalidade do pensamento: filosofia, ciência e política para este IV Colóquio Merleau-Ponty, em Limeira, nos permite continuar com pelo menos três características deste importante encontro:

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  1. Promover o debate e reflexão da obra de Merleau-Ponty, não como algo dado, mas como pensamento vivo;

  2. Lançar o pensamento de Merleau-Ponty para a leitura de diferentes situações, questões e problemas, sem distinção de prática e teoria, ou seja, na carnalidade do mundo;

  3. Dialogar entre diferentes perspectivas e disciplinas, promovendo uma interdisciplinaridade inerente ao filosofar merleau-pontiano, ao mesmo tempo em que seu pensamento se desdobra para várias áreas, da filosofia, da ciência e da arte, dando assim maior densidade e envergadura às possibilidades por ele abertas.

 

O primeiro destes colóquios, que reúnem a comunidade dedicada ao pensamento de Merleau-Ponty, ocorreu em Salvador, em 2008, na Universidade Federal da Bahia. Em 2011 o segundo colóquio foi realizado na Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa, com a terceira edição tendo ocorrido em 2014, na Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis. Em 2018, portanto, é a primeira vez que este evento acontecerá no Sudeste, na cidade de Limeira, na Universidade Estadual de Campinas. Este Quarto Colóquio procura trazer alguns elementos para contribuir com esta história de 10 anos, sobretudo por uma perspectiva interdisciplinar e da relação entre filosofia, ciência e política pautada pela situacionalidade e a carnalidade do próprio pensamento.

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Este será o primeiro Colóquio organizado por um centro de pesquisa e um programa de pós-graduação que não estão ligados à área de Filosofia: o Laboratório de Geografia dos Riscos e Resiliência (LAGERR) (no qual encontra-se sediado o NOMEAR – Grupo de Pesquisa Fenomenologia e Geografia) e o Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (ICHSA), ambos da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA). Neste sentido, a escolha do tema está diretamente atrelada ao entendimento da vitalidade e relevância do pensamento de Merleau-Ponty para questões contemporâneas da ordem do dia, que nos obrigam a repensar as relações entre filosofia, ciência, arte e política, no sentido da concreção e urgência de lidar com nossos dilemas que, considerados sob a perspectiva de um pensamento encarnado, trazem consequências e desafios que precisam ser meditados e enfrentados.

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